Sem dúvida que as mulheres podem e devem protestar pelo fim da violência sexual, pois não há justificativa para o estupro. É crime e a mulher não pode ser culpada por tal ato. Sou a favor da reivindicação de hospitais preparados para os casos de violência contra a mulher com segurança responsável do espaço público, com manutenção de terrenos baldios e uma boa iluminação em todos os bairros. Sou a favor de uma sociedade sem preconceitos, contra o machismo, o racismo e a homofobia, problemas estes que predominam e assolam nosso país.
Entretanto, a reivindicação da Marcha das Vadias, a meu ver, utiliza o termo 'vadia' de forma a desqualificar e denegrir a imagem da mulher que luta por seus direitos. Muitas pessoas podem concordar com o uso do vocábulo que teve sua origem no movimento Slutwalk, no Canadá, em Toronto, organizado por estudantes da universidade local, a partir da declaração de um policial que afirmou, durante uma palestra, que o fato de as mulheres se vestirem como “vadias” poderia estimular o estupro.
Sairem às ruas, nuas, como vadias não reforçaria o pensamento retrógado e ignorante deste policial? Há inúmeras formas de manifesto. Por que não utilizar de outros recursos para ressaltar a revolta e a impunidade, como por exemplo, o uso de faixas com palavras de ordem, apitos, narizes de palhaço ou outro meio que não seja humilhante? Simpatizei com o trocadilho usado em um dos cartazes da marcha: "Vá-dia da palavra mal colocada." Infelizmente, a nudez das 'vadias', sim, e a palavra mal colocada desfocaram completamente os reais e importantes objetivos. Não podemos generalizar todas as mulheres por classificá-las a um baixo nível. Afinal, a expressão 'vadia' não pode ser definida para representar o nosso real valor. Somos Mulheres que merecem Respeito.
Maísa Neves